[Resenha] Crônica do Pássaro de Corda - Haruki Murakami


Toru Okada é um jovem casado e sem filhos, que leva uma vida banal em Tóquio. Quando seu gato desaparece, ele vê seu cotidiano se transformar. A partir disso, personagens cada vez mais estranhos começam a aparecer, transformando a realidade em algo digno de sonho. Com seus fantasmas invadindo o mundo real, Toru Okada é obrigado a enfrentar os problemas que carregou consigo por toda a vida.
Conjugando os elementos mais marcantes da obra de Haruki Murakami, Crônica do Pássaro de Corda fala sobre a efemeridade do amor, a maldade que permeia a sociedade moderna e o legado violento que o Japão trouxe de suas guerras. Cativante, profético, cômico e impressionante, é um tour de force sem paralelos na literatura atual.

Título Original: The Wind-Up Bird Chronicle
Categoria: Romance
Editora/Ano: Alfaguara/2017
* Cortesia da Editora Alfaguara para resenha.

Tudo começa quando Noboru Wataya, o gato criado pelo casal Toru e Kumiko, desaparece sem deixar vestígios. 

Toru Okada, sujeito pacato e de poucas ambições, se põe a procurar o bichano em um beco nas redondezas de sua casa e ouve o canto de um pássaro que mais parece um brinquedo de corda: ric-ric-ric. Mas, como ele mesmo percebe depois, não é como se alguém desse corda no pássaro; é como se o pássaro desse corda no mundo, colocando as coisas em movimento, mantendo o fluxo.

É a partir de um drama banal, vivido por um protagonista ordinário, que uma sucessão de acontecimentos surreais se desenrola. Uma boa definição para Crônica do Pássaro de Corda vem do próprio Toru, que descreve o estilo de narrativa de Malta Kanô – uma dentre tantas figuras peculiares que encontra pelo caminho –, como "um quebra-cabeça em que a realidade nem sempre era verdade, e a verdade nem sempre era realidade". É como se, ao longo de toda a obra, a fronteira entre o onírico e o físico tivesse sido temporariamente suspensa.

Diferentemente de outros trabalhos do autor, Crônica do Pássaro de Corda se afasta em alguns momentos do cenário urbano para ambientar a ação em uma zona de guerra, no caso a região da Manchúria, na atual China, em agosto de 1945. De alguma forma, esse local acaba sendo o fio condutor que perpassa as histórias de alguns personagens, como o vidente Honda, o primeiro-tenente Mamiya e, naturalmente, pessoas com nomes bizarros como Noz-Moscada Akasaka e Canela Akasaka. 

Um dos principais méritos de Murakami é conseguir conectar diversos arcos de forma tão intrincada e intrigante, com múltiplas camadas de realidade e um profundo simbolismo. São mundos diferentes que se sobrepõem a todo momento, acessíveis ora por sonho, ora pelo fundo de um poço em uma casa abandonada, ora por presentes inusitados deixados por quem já se foi. Como de costume, a jornada traz muitos dos ingredientes quase sempre presentes nos romances de Murakami, como mulheres e gatos que desaparecem, ligações telefônicas misteriosas, adolescentes precoces, fetiches com orelhas, cenas de sexo um tanto quanto pitorescas, para dizer o mínimo.

Lá pelas tantas, a busca de Toru deixa de ser pelo gato, que por sinal tem o mesmo nome do seu cunhado, e ganha contornos e proporções inimagináveis. Trata-se de um belíssimo romance sobre livre-arbítrio, amores e perdas, crescimento e morte. É dessas leituras que provocam um vazio assim que a última página é virada, e que por isso recomendo fortemente.

Resenha feita pelo blogueiro convidado Ronan Sato.

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