Hoje é quinta feira! Dia de MMF ENTREVISTA! E nesta data conversaremos com Jacó Galtran.
Saiba que é ele:
Jacó Galtran é RPGista, nerd, blogueiro e escritor. Já disponibilizou dezenas de contos em seu blog, o 'Contos de RPG', além de ter escrito um romance (ainda inédito) e estar produzindo mais dois. Vendo a força cada vez maior das mídias digitais, resolveu apostar nelas. Agora publicou na Amazon o conto 'O Legado de Lyraan', considerado pelo autor como seu melhor trabalho até o momento."
ENTREVISTA
1. Você se lembra do primeiro livro que leu na
vida? Que idade tinha?
R.: Foi, se não me engano,
"O Mistério dos morros dourados", daquela famosa Coleção
"Vagalume". Foi muito marcante porque eu devia ter uns sete ou oito
anos e "li como um leitor". Hoje, eu leria o mesmo livro como um
"autor analisando outro autor".
2. Você tem algum livro não publicado que
esconde a sete chaves? Se sim, um dia teremos a chance de lê-lo?
R.: Tenho um livro não
publicado chamado "Rainhas em Guerra", que deve ser o primeiro de uma
trilogia. Mas não está escondido a sete chaves, apenas foi rejeitado por
editoras grandes e estou esperando o momento certo para tentar publicá-lo. É
uma obra que significa muito para mim e por isto vou buscar visibilidade como
autor com outros trabalhos para só lançar "Rainhas em Guerra" quando
tiver um público maior.
Mas algumas pouquíssimas
pessoas já leram o livro. Um abraço a elas, inclusive.
3. Qual o seu maior ídolo na literatura?
R. Acho a palavra
"ídolo" um pouco forte. Mas posso citar Tracy Hickmann e Margaret
Weiss, autores da trilogia "Crônicas de Dragonlance", cuja obra me
fez perceber que a única que eu queria na vida é escrever. Naturalmente, admiro
diversos(as) outros(as) autores(as) nacionais e internacionais.
4. Como funciona seu processo criativo?
R.: Para contos curtos, uma
idéia básica, boa música e algum refrigerante. Sento e escrevo. Simples assim.
Romances ou materiais um
pouco maiores exigem um pouco de planejamento. Delineio os acontecimento em uma
sequência, interiorizo na cabeça as personalidades dos personagens, ponho
alguma música e certifico-me que o copo de refrigerante está cheio. Então
começo.
A única coisa de que me
envergonho no processo todo é por não conseguir escrever todos os dias, mesmo
em dias em que eu tenho tempo livre para fazê-lo.
5. Qual o seu livro de cabeceira neste exato
momento?
R.: Estou lendo "O
código élfico", do Leonal Caldela, outro autor do qual sou fã e que foi
muito importante para o meu começo.
6. Fale um pouco sobre o que os leitores
encontraram em “O Legado de Lyraan” e “Guerra nos nove mundos”.
R.: Em "Guerra nos nove
mundos", temos personagens intensos em meio a um mundo caótico. Há espaço
para reflexão, para descrições de uma ruína abandonada e imunda, e para um
pouco de combate. A sinopse fala sobre a paz interior ser a única paz possível
em um mundo cheio de guerra. A busca por esta paz é o foco da obra.
O Legado de Lyraan é uma
narrativa poética. Existe lirismo até na morte. No fim, da mesma forma que seu
antecessor (talvez até um pouco mais), fala das relações entre os seres vivos.
Mas mais do que isto, fala sobre o que fica depois da morte. Depois que
morrermos, o que virá a cabeça das pessoas quando se lembrarem de nós?
7. Hoje vemos um sem-número de novos autores
independentes. Se destacar nessa enorme seara é uma missão tortuosa e longa.
Como tem sido sua experiência ao divulgar sua obra de forma independente? E
quais as maiores dificuldades?
R.: Fiz uma lista com
aproximadamente 300 "blogs literários". Mandei e-mails a todos,
individualmente, tomando o cuidado de citar nominalmente o responsável por cada
blog, para que quando a pessoa recebesse meu e-mail, não se sentisse só mais
um. Convidei todos a conhecerem meu trabalho, deixei o link dos meus blogs e do
meu wattpad (que contém dezenas de contos que podem ser vistos gratuitamente) e
pedi que me ajudassem com a divulgação da forma que pudessem.
Dos 300, recebei,
aproximadamente, 25 respostas. Menos de dez por cento. Coloque aí uns seis ou
sete que realmente resenharam, uns doze que fizeram um post de divulgação e uns
seis ou sete que responderam uma vez pedindo mais informações sem ir além
disto.
Não critico nem culpo
ninguém. Em um mesmo dia, lembro de ter visitado vinte blogs. Oito tinham como
última postagem uma resenha DO MESMO LIVRO - uma obra internacional publicada
por uma grande editora. Cada um tem sua política. Mas existe pouca gente
REALMENTE interessada em auxiliar autores iniciantes.
Resta seguir divulgando,
escrevendo, fazendo contatos e tentando formar uma "rede de
relacionamentos" com pessoa do meio para adquirir visibilidade. E aos
poucos, torcer para que você seja notado. Por uma editora ou por um número cada
vez maior de leitores.
8. Como tem sido a respostas dos leitores?
R.: Modéstia à parte, muito
boa. Curiosamente, lembro que, em algum lugar, alguém disse que não gostou do
final de "Guerra nos Nove Mundos" porque achou que deveria haver um
"maior desenvolvimento". Ao invés de esbravejar, escrevi uma
continuação chamada "O Legado de Lyraan".
Fora isto, quem lê
geralmente gosta do meu material.
9. Como você vê o papel dos blogs literários
na jornada do autor independente.
R.: Eles podem ajudar, mas
não são tudo. Percebi que a grande maioria dos donos de blogs literários
preferem livros físicos - e todos os meus materiais são em pdf, ou em e-book,
ou estão disponíves para leitura na internet.
Por outro lado, 96,2% dos
blogs solicita que o autor envie (leia-se: DÊ) ao bloqueiro um exemplar. Uma
editora grande tem totais condições de fazer isto; um autor independente talvez
não tenha. Ou seja: se o escritor iniciante quiser ter 10 resenhas, precisará
doar 10 livros - e provavelmente arcar com os custos de envio. É curioso pensar
que ninguém que já resenhou livros do George Martin recebeu um exemplar de
graça enviado por ele...
Repito: cada um faz o que
quiser, os donos de blogs podem ter a política de parceria que preferirem. Mas
é importante que quem está começando saiba que os blogs não serão os que mais
ajudarão na divulgação.
10.
Na sua opinião, por que as grandes editoras
priorizam tantas obras estrangeiras de qualidade mediana enquanto autores
talentosíssimos penam para distribuírem suas obras de forma totalmente
independente?
R.: Eu não sei.
Teoricamente, uma editora não vai investir em um autor nacional desconhecido.
Mas ela investe em um autor internacional que, quando chega no Brasil, aqui
ainda é um desconhecido. E se ele vai se tornar conhecido aqui quando a editora
realizar seu trabalho de marketing, ela poderia realizar este mesmo trabalho de
marketing com um autor nacional ainda desconhecido.
Resmungar não adianta. Mas
fico pensando: e se uma editora grande investisse em um autor iniciante dizendo
"A mais nova revelação da literatura fantástica nacional" ou "O
autor nacional que você PRECISA conhecer". Talvez chamasse a atenção e
despertasse a curiosidade dos leitores.
Como isto não acontece,
vamos seguir trabalhando.
11. Sei que você costuma ler obras de novos
autores independentes brasileiros. Poderia indicar alguma(s) que merecem
destaque?
R.: Minha autora favorita
nacional é a Ana Lúcia Merege, que nem pode mais ser considerada independente,
já que está publicando pela séria editora Draco. Qualquer coisa escrita por ela
é sensacional - e vem livro novo dela em breve.
Luciane Rangel é autora da
trilogia "Guardians", uma obra simplesmente memorável - e vem livro
novo dela por aí.
Gisele Bizarra já lançou
cinco livros pelo "Clube dos Autores" e escreve sagas muito
agradáveis e bem-escritas.
Liége Báccaro Toledo e sua
série "O Enigma da Lua" se destacam pela simbiose perfeita entre
romance e aventura.
Os contos de terror da Karen
Alvares são assustadores, mas ainda mais assustador é como o texto dela é bem
escrito - e vem livro novo dela por aí.
Os contos da Melissa de Sá
são de uma escrita impecável, além de o blog dela, "Livros de
Fantasia", ser um dos mais sérios do
país.
A Ana Cristina Aguiar tem
livros extremamente cativantes, a Lívia Taisa Rolim Stocco criou personagens
maravilhosos (e também vem livro novo por aí).
Destaco também Flávio Haag,
Roberto César, Giovani Arieira, Marco Antônio Febrini Junior.
Devem ter muitos outros,
estes são os que me lembro de cabeça.
12.
Uma das grandes dificuldades do autor
independente é conseguir oferecer seu livro por um preço mais módico. Por outro
lado, os e-books são bem mais baratos que os oferecidos por grandes editoras.
Como você tem percebido as preferências de seus leitores? Você tem sentido
resistência ao livro digital por parte deles?
R.: A impressão é que a
maioria ainda prefere livros físicos. Mas se o meu e-book está na posição 19559
dos mais vendidos, significa que outras 19558 obras conseguiram vender mais que
eu.
A questão é que talvez seja
mais difícil encontrar os leitores que apreciam os e-books. Mas eles existem. E
são muitos.
13.
Você tem o costume de ler livros em formato
digital?
R.: Comecei recentemente.
Principalmente, contos curtos.
14.
É de conhecimento comum que você é um grande
amante da literatura fantástica. Esse é um estilo que predomina em sua escrita
ou você também gosta de escrever outros gêneros?
R.: Além de literatura de
fantasia, eu tenho um blog que narra as aventuras de um grupo de heróis nos
moldes dos super-sentais japoneses. São os Jacohrangers http://jacohrangers.blogspot.com.
Escrevê-los é uma experiência desafiadora por ser um tipo de história que
depende MUITO de referências visuais - que eu não tenho como oferecer.
Uma vez, escrevi um conto
bem curto de terror e um conto também curto sobre o enterro de um membro de uma
torcida organizada.
Mas, de fato, minha
preferência é a literatura fantástica. É onde me sinto "em casa".
15.
Pode nos falar sobre seus projetos futuros?
R.: Até o final do primeiro
semestre, devo terminar "Unificação", um romance que é a continuação
do "Rainhas em Guerra". Ambos continuarão guardados no PC até o
momento oportuno.
Depois, focarei no primeiro
volume de "As Crônicas de Adalahar", que quero lançar até o final do
ano. De que forma ele será disponibilizado eu ainda não sei, mas é provável que
seja via Amazon e DE GRAÇA.
É importante destacar que
terminei um romance chamado "Verdadeiros Gigantes", que enviei para a
apreciação de várias editoras. Quem sabe não temos boas notícias sobre ele em
um futuro próximo?
Fora isto, sigo com contos
no http://contosderpg.blogspot.com,
no meu wattpad www.wattpad.com/JacoGaltran
e assuntos diversos de literatura no http://jacogaltran.blogspot.com.
Ah, sim: há também os
capítulos semanais dos Jacohrangers, e dois especiais sobre eles que estou
preparando.
Como vêem, estarei bastante
ocupado. Se me virem no facebook, expulsem-me de lá e me mandem ir trabalhar.
16.
Dizem
que o protagonista de um livro, muitas vezes, representa um alter-ego do autor.
Lyraan tem muito da sua personalidade?
R.: Na verdade, o
protagonista do ainda inédito "Rainhas em Guerra" é uma versão
piorada minha. Muito piorada. Sem amor-próprio, sem autoconfiança. Um desastre.
O Lyraan também tem um pouco
da minha insegurança, mas em uma proporção bem menor.
17.
Atualmente a literatura e ficção é subdividida
em incontáveis gêneros e sub-gêneros. Em qual deles você classificaria “O
Legado de Lyraan”, e qual público alvo deseja alcançar, prioritariamente?
R.: Não sei se este termo é
cunhado com frequência, mas eu rotularia "O Legado de Lyraan" como
"fantasia clássica".
O público-alvo são
apreciadores de histórias profundas e intensas. Não sei se é uma descrição
satisfatória, mas eu penso que seja a mais adequada.
18.
Algum de seus personagens é inspirado em uma
pessoa real?
R.: O inédito "Rainhas
em Guerra" é 100% baseado em pessoas reais. Todos os nomes são nomes de
amigos pessoais meus, ou variações de nomes de conhecidos. Até o nome de
algumas cidades são bizarras variações de nomes de bairros de Curitiba.
19.
Como e quando surgiu seu interesse pela
escrita?
R.: Eu semprei gostei de
criar/contar histórias. Adorava brincar com "bonequinhos de
super-heróis".
A escrita em si surgiu
quando eu li as "Crônicas de Dragonlance". Percebi que queria
escrever e que não gostava de nenhuma outra profissão. Infelizmente, preciso
exercer outras atividades além da escrita. Mas quero, um dia, apenas escrever.
20.
O que você diria aos futuros escritores, que
desejam mostrar ao mundo as histórias que povoam suas mentes?
R.: 1) Tornem-se os melhores
escritores possíveis, escrevendo muito e com frequência, revisando muito e sem
preguiça.
2) Mostrem seu trabalho,
conversem com outros autores, criem uma rede de relacionamentos no segmento e
façam um grande esforço para que seu trabalho fique conhecido.
3) Leiam bastante. E voltem
a escrever ainda mais e a revisar ainda mais.
21.
Qual
é o seu personagem preferido em sua obra publicada?
R.: Gosto muito da Taashya,
que é uma elfa de beleza física infinita, mas muito insegura. Ela foi
construída para refletir como, às vezes, a beleza nos deixa inseguros. E se a
minha beleza não for o suficiente? Tenho algo mais a oferecer ao mundo?
Em tempo: não sou bonito.
Foi só uma comparação para que vocês entendessem.
22.
O que você tem a dizer a quem ainda não
conheceu seu trabalho
R.: Comece lendo o conto http://contosderpg.blogspot.com.br/2010/02/grande-coroacao.html,
que é bem curtinho. Se gostar, terá muitas outras opções.
Detalhe: neste link, abaixo
do texto, há um comentário feito por ninguém menos que a autora Carolina
Munhoz.
23.
Se a
história de Lyraan fosse para os cinemas, o que, para você, não poderia faltar?
E quem seria o diretor ideal?
R.: Entendo pouquíssimo de cinema.
Quanto ao diretor, gostaria apenas que NÃO fosse o Peter Jackson.
E seria fundamental que a
ESSÊNCIA da história não fosse perdida. Ela é sobre sentimentos, anseios,
expectativas e como lidar com a frustração quando as coisas não saem como
deveriam. Isto precisaria ser preservado e, sobretudo, destacado.
24. Por favor, dê seu recado. Diga o que
quiser para seus leitores, futuros leitores, inimigos... Todos.
Obrigado pelo espaço e
desculpem-me se minhas respostas ficaram muito longas.
Grande abraço e vamos seguir
escrevendo/lendo.
Agradeço ao Jaco Galtran pela entrevista e pela velocidade espantosa com a qual respondeu às perguntas.
Semana que vem tem mais!
Se
você é autor e também quer conversar com o mundinho, mande um email para mmundinhof@yahoo.com.br, que teremos
o maior prazer de bater um papo sobre o árduo mundo da literatura independente.
A entrevista ficou excelente, parabéns ao Jacó pelas respostas e ao Samuel pelas perguntas muito bem construídas e conduzidas. Muito do que o Jacó disse retrata fielmente como é o cenário da literatura para um autor independente. Mas é como ele disse, não adianta reclamar, tem que continuar escrevendo... só assim. Afinal, não é fácil para ninguém. E mesmo quando se chega à publicação, temos aí apenas um primeiro passo em um caminho ainda longo...
ResponderExcluirAgradeço imensamente por ter sido citada pelo Jacó. Quem quiser conhecer um pouco mais do meu trabalho pode visitar o blog: www.oenigmadalua.blogspot.com - ficarei muito feliz em receber visitas!
Nem posso dizer como estou feliz e honrada em ser sua autora favorita no Brasil - mas o que mais achei legal nesta entrevista, além de saber dos excelentes trabalhos que logo voc~e irá publicar, foi sua lucidez acerca do mercado editorial, não apenas quanto aos blogs, mas também à posição das editoras que investem em traduções de obras muitas vezes antigas, só porque consagradas ou fazendo sucesso lá fora, em vez de investir em nomes nacionais. Felizmente o paradigma está mudando para melhor! Sucesso, sempre, Mestre Jacó!
ResponderExcluirOi Samuel,
ResponderExcluirtudo bem?
Adorei essa entrevista. Como o Jacó fala bem. Eu realmente tive a sensação de estar em um bate papo ao vivo com ele. Parabéns pelas perguntas, com certeza os dois tornaram a conversa bem interessante. Não conhecia os autores que ele citou.
Para falar a verdade, não conhecia o Jacó, então, desejo sucesso para ele.
beijinhos.
cila-leitora voraz
http://cantinhoparaleitura.blogspot.com.br/
Adorei a entrevista e adorei as respostas de Jacó!
ResponderExcluirMe identifiquei muito com essas respostas e concordo com muito do que foi falado!
Desejo sucesso a ele!
Adorei a entrevista e, principalmente, a sinceridade do autor. Concordo plenamente que a maioria dos blogs só quer livros gratis para "ostentar" em suas estantes. Sou escritora independente e mandei alguns exemplares... faz 5 meses e ainda aguardo as resenhas. "as filas são enormes" eles dizem. Bah... blogs e sas divulgações. Começo a crer que quem lê esses blogs são só os outros blogs (para trocar figurinhas..tipo, comenta o meu que comento o seu) e os pretendentes a autores.
ResponderExcluir