Hoje mais uma quinta-feira começa,
o que significa que entra no ar o meu, o seu, o nosso “MMF Entrevista”, o talk show semanal do Meu Mundinho
Fictício. E no programa de hoje temos uma convidada que está lançando seu
primeiro livro. Ela sabe tudo de surf e de sexagenários galanteadores em crise
existencial.
Com vocês: Ana Paula Seixlack.
Ana Paula Seixlack nasceu em
Cascavel (PR). Obcecada por cinema, música e literatura estrangeira das décadas
de 1950 e 1960, inspira-se nesse universo para compor suas personagens em
narrativas e roteiros de cinema. Formou-se em Letrras e aprofundou o domínio da
língua inglesa quando morou na Califórnia. É
autora de "Don’t back down from that wave" (2008) e "The next
sunset" (2011). Também escreveu os contos de "A chuva, o
parque, as flores e outras coisas" (2009).
Sua
Obra
COWABUNGA!
Desventuras de um ex-surfista
ENTREVISTA
1. Você se lembra do primeiro livro
que leu na vida? Que idade tinha?
R.: Sim! Tinha cinco
anos. Era um livro chamado A casa sonolenta da Audrey Wood. Na verdade,
não sei se esse foi exatamente o primeiro. Mas foi um dos primeiros, com
certeza. E eu o li tantas vezes que sabia de cor. Ainda sei.
2. Você tem algum livro não
publicado que esconde a sete chaves? Se sim, um dia teremos a chance de lê-lo?
R.: Não publicado,
sim. Agora que eu esconda a sete chaves, não. Ano passado eu participei do NaNoWriMo.
É uma competição para escrever em um mês – todos os dias de novembro, um
romance de cinquenta mil palavras. Eu tinha vários amigos americanos que
participavam todos os anos e mal podiam esperar por novembro e havia toda
aquela atmosfera em volta disso: folhas em branco, pressão, o relógio correndo,
doces e café madrugada adentro e milhares de procrastinadores online reclamando
que não deviam estar no Youtube. Eu me animei e resolvi participar. Depois entendi que o principal objetivo,
antes da qualidade do texto, era atingir logo as cinquenta mil palavras, pois
após o prazo você não recebia mais o seu “diploma de vencedor”, mas depois de
novembro, você tinha a vida toda para revisar e melhorar, e talvez até
reescrever toda a história. Então as pessoas despejavam as palavras de qualquer
jeito e só depois de novembro é que elas corrigiam a grafia, incoerências e
tudo mais. Então eu também entrei na onda. A minha história de cinquenta mil e
seis palavras se chama “Polset Beach: guarding a guardian angel. Mas
ainda estou trabalhando nela.
3. Qual o seu maior ídolo na
literatura?
R. Ernest
Hemingway. Inclusive, sou formada em
Letras e minha monografia foi sobre ele.
4. Como funciona seu processo
criativo?
R.: Geralmente as boas
ideias só chegam quando eu estou fazendo outra coisa. Há uns três anos era
assim: quando eu sequer tinha uma ideia do que ia escrever, eu sentava na
frente do computador com um litro de Coca-Cola, chocolate à vontade e escrevia
até cansar. Hoje, como eu diminuí a quantidade de doces e não bebo mais refrigerante,
metade da diversão foi embora. Então já que não posso mais compensar com isso,
tem que ser de outra forma. Assim, não caio mais de paraquedas na cadeira. Só
sento e escrevo quando já tenho uma ideia do que vou fazer. E nesse caso, flui
bem rápido. E o que eu escrevi em um dia, eu só deixo pra revisar bem depois.
Claro, se não tiver prazos para cumprir... Mas daí já é outra história.
5. Qual o seu livro de cabeceira
neste exato momento?
R.: A guerra dos botões de Louis Pergaud.
6.
Fale
um pouco sobre o que os leitores encontraram em “Cowabunga”.
R.: Cowabunga!
Desventura de um ex-surfista é uma história bem leve, divertida e
inspiradora. E nela você encontra muito surf, muitas ondas, muito estímulo para
uma vida menos sedentária e um personagem incomparável, o Zimbo.
7.
Cowagunga é sua primeira obra publicada
no Brasil. Como tem sido o trabalho de divulgação, já que nosso país dá tão
pouco espaço para a literatura?
R.: Para falar a
verdade, eu não faço praticamente nada. Essa parte está toda com a minha irmã.
Ela que cria postagens, fala com as pessoas e divulga por todos os lados. :)
8. Como tem sido a respostas dos
leitores?
R.: Eles falam que
adoraram e que a história é bem original. Todo mundo gosta do Zimbo. Uns dizem
que querem morar em Florianópolis e aprender a surfar. Outros surfam e falam
que levam o livro para ler na praia. E, curiosamente, uma garota ontem falou
que foi pesquisar a música There's no more corn on the Brasos que o
Zimbo canta enquanto está tentando surfar em um dos capítulos, e se apaixonou.
Disse que agora essa é a música preferida dela. Então, no geral, acho que estão
gostando.
9. Como você vê o papel dos blogs
literários na jornada dos novos autores?
R.: É muito
interessante, quando há boa vontade do blog em ler e comentar a obra. Mas tem
que pesquisar como funciona cada blog para ver se compensa mesmo. Até porque
muitos deles só querem um livro a mais para a coleção. Praticamente imploram e
querem que seja enviado o quanto antes, mas depois que o recebem, simplesmente
se “esquecem” dele.
10. Zimbo é um personagem muito humano, cheio de
vícios e virtudes. É tão verossímil que parece ter sido baseado em um
personagem real. Você se inspirou em alguém para compor o personagem?
R.: Por incrível que
pareça, não! Muitos querem saber se existe um Zimbo real ou ao menos alguém
parecido com ele que tenha sido a minha inspiração, mas não! Eu queria criar um
cara que fosse extraordinário, que tivesse carisma, mas ao mesmo tempo, que
fosse bem humano e crível. Ele tinha que ser bonito, para justificar algumas
das atitudes dele e das pessoas em relação a ele. E a idade dele precisava,
necessariamente, ser essa também, pois eu queria que ele tivesse vivido sua
pré-adolescência nos anos cinquenta e a juventude nos anos sessenta. Os fatos
que ele vivenciou em cada época ajudam a moldá-lo do jeito que ele é hoje. E
outros detalhes de sua personalidade foram aparecendo junto com a história.
11. Você costuma ler obras de novos
autores? Poderia indicar alguma(s) que merecem destaque?
R.: Alguns sim, embora
eu leia mais autores antigos. Aliás, eu tenho um certo problema com a palavra
“novo”. Para mim, um autor que começou a carreira nos anos sessenta e escreve
até hoje, é novo. Stephen King, Tobias Wolff, Bob Greene, para mim essa
turminha toda se enquadra nessa categoria. Mas eu entendi a pergunta. Um autor
novo que eu gosto muito, mas, convenhamos, nem precisa mais de indicações, é o
John Green. Também gosto da Maureen Johnson e do Scott Westerfeld.
12.
Cowabunga!
retrata, em algumas partes do passado de Zimbo, uma época em que você nem era
nascida. Como foi a pesquisa para descrever tão bem o passado de Zimbo?
R.: Eu sempre gostei e
me identifiquei muito com aquela época, e isso começou por influência da minha
mãe. As pesquisas nem foram tanto para o livro. Eu venho lendo e pesquisando
acerca disso há minha vida inteira. Gosto de filmes, livros, teatro, moda e
música dessa época. Quando eu tinha uns 15 anos, escrevi com uma amiga um
roteiro de cinema sobre os anos sessenta. Hoje, vejo que era um enredo bem
“enlatado americano”, mas foi muito importante para a gente o processo de
escrevê-lo naquela época. Chamava-se My generation, e era sobre uma
menina que voltava aos anos sessenta, ficava amiga de seus pais, que eram mais
jovens do que ela, seguia o Bob Dylan pela Rota 66 e praticamente tudo que
aconteceu de importante entre 1967 e 1969 foi citado de alguma forma. Para
escrever o roteiro, pesquisamos muito sobre esse tema.
13. As descrições que envolvem o surf também são
muito bem feitas. Você surfa? Fale um pouco de como adquiriu todas essas
informações.
R.: Eu não surfo. E
para quem me conhece, isso não é uma surpresa. Gosto muito, adoraria surfar,
mas as circunstâncias nunca me ajudaram. Com exceção dos três meses que vivi na
Califórnia, eu sempre morei em cidade sem praia. Não tinha como aprender, criar
uma rotina de treinamentos e tudo mais. Eu apenas ia à praia, às vezes, nas
férias de fim de ano e lá alugava uma prancha. Então pensei “vou aprender a
teoria primeiro para ganhar tempo e quando chegar na água é só sair surfando”.
Li muito, assisti a
documentários, filmes, ouvia muita surf music dos anos sessenta e depois
ia descobrir como eram as manobras citadas e tirava minhas dúvidas sobre
pranchas, técnicas e manobras com surfistas profissionais. A teoria eu posso
dizer que aprendi um pouquinho, mas a prática já não é tão simples
assim... Quando eu vou a algum lugar com
praia eu até tento. Pego uma prancha, corro para o mar e Cowabunga! Eu
não faço manobra alguma, eu mal consigo ficar de pé. O Zimbo é quase o meu
alter ego nessas horas.
14. Quando esteve fora do país, você publicou 2 livros de poesias e 1 de crônicas, sendo dois deles em inglês. Teremos a
oportunidade de ver essas obras aqui no Brasil?
R.: Talvez! Estou
pensando em colocar uma versão em PDF online. Mas no meu blog tem alguns poemas
do livro “Don't back down from that wave de 2008, mas tem que cavar um
pouco para chegar até eles. Nas postagens mais recentes, estou me aventurando
mais na arte de fazer poemas em francês.
Meu blog: http://encoredesparoles.blogspot.com.br/
15. Pode nos falar sobre seus projetos futuros?
R.: Bem, escrevi um
livro com a minha irmã. Já está quase pronto e sai em maio. Chama-se Solidão
na corda bamba. E também estou escrevendo um livro com um amigo da Suíça
que é escritor. Mas estamos escrevendo devagar, sem pressa e sem prazos.
Provavelmente o título será Follow the wind.
E também tenho que
terminar a história do anjo, que eu comecei no NaNoWriMo.
16. Você também escreve roteiros para cinema.
Algum trabalho seu já foi filmado? Tem projetos futuros para o cinema?
R.: Ainda não. Bom,
para não dizer que nada foi filmado, eu mesma filmei um. Eu dirigi um
curta-metragem, que eu escrevi no ano passado com uma amiga, Cheron Chevalier,
pelo SESC da minha cidade. Mas antes da estreia que está prevista para o fim
deste mês, não posso colocá-lo online.
E quanto aos meus
outros roteiros, ainda estou estudando as possibilidades.
17.
Se Cowabunga!
for para os cinemas, quem gostaria de ver como diretor? E que seria o Zimbo
ideal?
R.: Boa pergunta! Mas
ainda não tenho uma boa resposta. Em
uma das passagens do livro o próprio Zimbo brinca que se fosse feito um filme
sobre sua vida, o ator ideal seria Robert Redford. Se não fosse a barreira da
língua, acho que ele é fisicamente o que mais se enquadra no perfil do Zimbo.
Mas por enquanto eu ainda não conheço o Zimbo ideal. Ele tem que ser loiro, brasileiro, ter uns
sessenta e poucos anos e ser absurdamente lindo. Conhece alguém assim?
18. Como e quando surgiu seu interesse pela
escrita?
R.: Aos cinco anos.
Logo que eu aprendi a ler e a escrever já quis escrever histórias. Minha irmã,
por ser quase 2 anos mais velha, já adorava fazer livrinhos. Ela criava a
história, desenhava e fazia a capa. E as obrinhas ficavam muito legais. Então
também comecei a brincar de “fazer livrinhos”. E fizemos isso por vários anos.
19. O que você diria aos futuros escritores, que
desejam mostrar ao mundo as histórias que povoam suas mentes?
R.: O tempo voa. A
vida passa muito mais rápido do que gostaríamos, então, não há motivo para
adiar ainda mais uma coisa que você já sabe que gosta e que quer fazer.
Escreva! Simplesmente escreva! Deixe os problemas que virão depois para depois.
20. Qual é o seu personagem
preferido em sua obra publicada?
R.: Zimbo, é claro!
21. O que você tem a dizer a quem
ainda não conheceu seu trabalho
R.: Tem umas pessoas
que falam que o livro parece interessante, mas não é o estilo preferido delas.
Algumas falam que só gostam de ler fantasia. Eu diria a essas pessoas que mesmo
assim deem uma chance ao livro.
Comecem a ler o
primeiro capítulo despretensiosamente, que eu sei que irão chegar ao segundo,
ao terceiro... E para aqueles que só curtem fantasia, bom, em alguns momentos o
Zimbo viaja total, a história praticamente vira uma fantasia. Então vale à pena
dar uma conferida!
23. Por favor, dê seu recado. Diga o
que quiser para seus leitores, futuros leitores, inimigos... Todos.
Leiam bastante. Quanto
mais, melhor. E valorizem também a literatura nacional.
Muito obrigado à autora por
conceder essa entrevista e por ceder um exemplar
para resenha. Todo o sucesso do mundo para essa promissora artista das letras.
Se você é autor e também quer
conversar com o MMF, mande um email para mmundinhof@yahoo.com.br, que teremos o
maior prazer de bater um papo sobre o árduo mundo da literatura independente.
Massa =) Não sou muito ligado a surf mas o livro parece interessante ^^
ResponderExcluirAdorei a entrevista.
ResponderExcluirAinda não li nada da autora, mas achei a COWABUNGA! Desventuras de um ex-surfista bem original. Parece ter uma narrativa leve e muitos aspectos do Surf. É bem impressionante ter tantos elementos do Surf mesmo a autora não sabendo surfar.
Espero que seus títulos americanos sejam traduzidos por aqui.
Achei a entrevista bem legal. O que mais me chamou a atenção foi o trabalho de pesquisa que a Ana Paula fez para escrever esse livro. E não foi apenas a parte teórica do surf, mas toda a época em que o Zimbo viveu sua infância e juventude (anos 50 e 60).
ResponderExcluir@_Dom_Dom
Muito legal a entrevista ^_^
ResponderExcluirComo disseram num dos comentários, não sou muito ligada ao surf, mas gostaria muito de conhecer a história. Vou adicioná-lo no Skoob o/
Que entrevista ótima! E o livro já está add no skoob :)
ResponderExcluirBeijos,
Jhey
www.passaporteliterario.com
Gostei muito da entrevista dela. Parece ser uma pessoa bem fofa.
ResponderExcluirBeijos.
http://livrosleituraseafins.blogspot.com.br/
Oi Bru! ^^
ResponderExcluirNão conhecia a autora nem o livro. Gostei de conhecer!
Parabéns pela entrevista! Ficou bem completa!
Beijusss;
http://hipercriativa.blogspot.com.br/
https://www.facebook.com/BlogMenteHipercriativa
Oi, adorei saber um pouco mais sobre a autora desse livro que parece ser muito bom, a entrevista ficou maravilhosa viu, esta de parabéns.
ResponderExcluirBeijos!!!
Adorei a entrevista! Já li Cowabunga e gostei muito, é realmente uma estória muito leve, divertida e inspiradora, gostei bastante e super recomendo! Adorei também saber mais sobre a autora, ela tem muito talento! :)
ResponderExcluirrecentemente li uma resenha do livro e fiquei realmente super animada em conferi o livro, e fiquei ainda mais feliz de poder ler a entrevista da autora!! Parabéns!!
ResponderExcluirDesejo muito sucesso a ela!!
Beijos ♥
Oie, tudo bom? Adorei a espontaneidade da autora e fiquei ainda mais ansiosa para ler o livro. Ele está na lista das minhas próximas leituras!!! Eu também escrevia bastante quando era criança e inventava muitas histórias.
ResponderExcluirMuito sucesso para a autora em seus novos projetos.
Beijos!
http://livrosyviagens.blogspot.com.br/
Oi ..
ResponderExcluirLegal saber que ela esta lendo um livro da série vagalume, eu adoro..
Legal a entrevista, ainda não conhecia a obra da autora..
beijos
livrosvamosdevoralos.blogspot.com.br
Não conhecia a autora e vi o livro apenas algumas vezes na lista de próximos lançamentos, muito legal saber que é de uma autora nacional, que já teve contos publicados fora, e está se aventurando no francês.
ResponderExcluirParabéns por esse livro sabendo mais sobre a história e só pela entrevista já estou gostando do Zimbo...kkk
Sucesso, espero que venham mais livros logo, afinal a vida de um leitor é feita de livros e como a Ana Paula mesma disse, quanto mais livros melhor!
Oi Samuel,
ResponderExcluirtudo bem?
gente, ela viveu na Califórnia e tem livros e roteiros escritos pelo mundo afora!!!! A vida dela deve ser bem interessante. Nunca ali nada sobre surfistas, realmente não é a minha "praia", risos... mas é um roteiro diferente de tudo o que já li, daria uma oportunidade sim.
Sucesso para a autora.
beijinhos.
cila-leitora voraz
http://cantinhoparaleitura.blogspot.com.br/
Adorei a entrevista. O fato dela ser fã do Ernest Hemingway já me ganhou. Se ela escrever como ele, é impossível não amar.
ResponderExcluirNunca li nada sobre surfistas, mas achei a premissa da obra interessante. Talvez eu leia.
M&N | Desbrava(dores) de livros - Participe do nosso top comentarista
Não conhecia essa autora, mas tenho que confessar que essa entrevista além de estar perfeita conseguiu captar toda a essência dela. Só de saber que ela gosta de literatura antiga já amei ela.
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