Jardim de Espelhos - Veridiana Maenaka

São Paulo, 1880
Cristina nasceu de um relacionamento proibido entre dois jovens da alta sociedade, por isso é rejeitada e entregue, ainda bebê, a uma mulher humilde. Ignorante de sua origem, cresce como serviçal na fazenda Redenção. Apesar da diferença social, ela e André, filho do dono da propriedade, tornam-se companheiros de folguedos e, na adolescência, namorados. Mas esse amor custa caro a Cristina, e ela cai em desgraça. Quem a salva do desamparo é Olívia, reconhecida alcoviteira, que a transforma numa mulher cobiçada e elegante, uma acompanhante de alto luxo.
Na solidão dessa vida a um só tempo glamourosa e degradante, Cristina reencontra André, o amor de infância. Obcecada por reconquistá-lo e retornar triunfante à fazenda Redenção, a moça precisará da ajuda do detestável – e atraente – Eduardo.
Paixões, intrigas e sensualidade num envolvente romance de época.

Editora/Ano: Giz Editorial/2014

Páginas: 352

Categoria: romance histórico, drama

Skoob

* Livro cedido como cortesia pela Giz Editorial

Olá pessoal, tudo bem?

Hoje temos a resenha de um romance de época nacional, que foge completamente do padrão de fofura e meiguice dos livros do gênero. Jardim de espelhos, publicado em 2015 pela Giz, foi meu primeiro contanto com a escrita de Veridiana Maenaka, e retrata uma história bem real, de acordo com o contexto da época em que se passa.

São Paulo, final do século XIX e início do século XX.

O livro começa com a jovem Henrieta dando à luz a Cristina. Henrieta pertence a uma rica e conhecida família de São Paulo, e quando se vê grávida, ainda solteira, é levada para o interior, por sua mãe, Ivone. Após o nascimento de Cristina, a mãe e a avó a entregam a Matilde, uma humilde empregada, como forma de evitar um escândalo. Matilde consegue emprego de cozinheira na Fazenda Redenção, pertencente aos Toledos, e por não tinha a menor paciência e apreço por crianças, Cristina cresceu sem afeto ou carinho de sua mãe adotiva, a quem ajudava como auxiliar de cozinha. Ela também foi educada pelos tutores de Andre, o filho dos donos da fazenda, que era seu melhor amigo e amor de infância. Aos 16 anos, Cristina descobre suas origens, e após um envolvimento com Andre, que se recusou a assumi-la (com o aval de sua família), ela foge para São Paulo, para ir atrás de sua mãe, onde uma nova rejeição a aguarda.

Não existe golpe sujo. O que existe é sobrevivência, esperteza. Seja bom e honrado para ver o que lhe acontece! Quando dr por si, o pé de alguém estará em sua garganta.

Pág. 243

Cristina então trabalha como criada em uma pensão, porém, sua beleza e gênio forte sempre a prejudicam. Já sem saber o que fazer, ela encontra em Olívia, uma alcoviteira (palavra para cafetina na época) a única mão entendida. Ambiciosa e determinada a mostrar a todos que a rejeitaram que ela conseguiria ganhar muito dinheiro, ela embarga nessa nova vida e se torna um cortesã de luxo. Entretanto, os anos se encarregam de colocá-la novamente no caminho de Andre, ao mesmo tempo em que conhece o arrogante (porém fofo) Eduardo.

Jardim de espelhos foi o meu primeiro contato com a escrita de Veridiana Maenaka, que me surpreendeu positivamente ao retratar uma história real, sem os floreios comuns aos romances de época. Os personagens são verossímeis, assim como os comportamentos retratados. Foi legal ver principalmente aqueles que se diziam justos, generosos e bondosos (como Clarice) sucumbindo ao preconceito e hipocrisia, quando uma situação colocava em risco a sua posição ou imagem social.

Aqui não temos nada de mocinha fofa, doce e que consegue escapar intacta das mazelas do mundo. Cristina é uma jovem ambiciosa, geniosa e extremamente orgulhosa. Essa combinação faz dela bem-sucedida em sua ocupação, por mais que sentisse nojo do que fazia, em muitos momentos. Porém, seu orgulho era, sem dúvida, superior a sua ambição, e foi esse traço que levou a jovem a se comportar como uma tola em vários momentos, após André entrar novamente em sua vida, e ela decidir que iria sim, se casar com ele a qualquer preço. O interessante é que apesar de muito firme e um tanto quanto manipuladora, ela nunca fez mal a ninguém. Se alguém saia prejudica com suas ações era ela mesma.

Um dia lhes mostraria que era. Teria dinheiro, teria prestígio e eles seriam obrigados a tolerá-la nos mesmos círculos.

Pág. 111

André foi outro personagem belamente construído. Eu o odiei. Da primeira a última página. Mas ele foi muito bem desenvolvido. O garoto mimado e inconsequente da adolescência não mudou nada, e após a passagem de anos ainda tínhamos um ser homem mimado e inconsequente. Seu comportamento foi muito mais coerente com a época retratada do que dos fofos “príncipes encantados” dos romances de época, que aceitam a mocinha não importando suas origens. Se Andre não assumiu e só quis se divertir com a Cristina Criada, por seria diferente com a Cristina Prostituta? E é essa postura que ela tenta mudar a todo custo!

Na minha opinião, os personagens que mais demonstraram descendia e preocupação com o próximo e com o destino de Cristina foram justamente aqueles considerados imorais e indecente. A cafetina Olivia se tornou a amiga e única mãe que a jovem conheceu, e o bom vivante Victor, um boêmio notório de São Paulo, se tornou seu melhor amigo. Enquanto isso, aqueles que se diziam descentes, como a avó de Cristina e os pais de Andre, não pensaram duas vezes antes de abandoná-la a própria sorte para evitar escândalos ou associações indesejadas. Temos também Guilherme, o irmão mais velho de Andre, que foi evoluindo, passando de um jovem sério e preconceituoso, para um homem realmente descente.

Gostei do livro, porém ele me incomodou um pouco no início. Devido a sinopse e ao prólogo, já sabíamos o destino de Cristina, mas, foram quase cem páginas descrevendo sua infância e adolescência na fazenda Redenção, antes do livro realmente avançar para a premissa prometida, e que havia chamado minha atenção. Por isso demorei bastante para ler esse início, já que a leitura não rendia de jeito nenhum. Porém, passadas as cem páginas, li as duzentas e cinquenta seguintes em 24 horas.

A narração é em terceira pessoa, apresentando o ponto de vista de vários personagens. Gostei da abordagem pois nos permitiu ver como eles realmente se sentiam e o que pensavam. Acho a capa do livro linda, e foi o que me chamou a atenção inicialmente. A diagramação é simples, porém bem feita, com páginas amareladas e letra de tamanho agradável. E não percebi erros de revisão.

Jardim de Espelhos foi um livro real e que nos leva a pensar muito na posição da mulher no início do século XX, que apesar do início lento, evolui e se torna realmente muito bom!

Beijos

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